Tradição e história: a coroação do Rei Charles III na Abadia de Westminster
Legendas
1) Trono da coroação de 700 anos
2) A nave gótica da Abadia de Westminster
3) Outro ângulo o trono durante a coroação do Rei Charles III
4) Pintura da fachada da Abadia de Westminster
Nesse texto falo sobre a beleza da arquitetura da abadia de Westminster, onde aconteceu a coroação do Rei Charles III e as relíquias exibidas nessa ocasião. Se existe uma coisa rara nos nossos tempos é a possibilidade de assistir um ritual tão cheio de significados e tradição como esse evento: a Coroa Inglesa mostrou por que desperta tanto fascínio e curiosidade. A começar pela impressionante abadia de Westminster, fundada por monges beneditinos em 960 d.C., que é desde 1066 o palco para a coroação de nada menos que 40 monarcas. Sua construção durou cerca de 300 anos e a arquitetura é uma mistura de estilos, com mais predominância do gótico inspirado nas catedrais francesas de Amiens, Reims e Chartres. Tem também a nave mais alta da Inglaterra, com 40 metros de altura. Repleta de histórias, detalhes arquitetônicos e obras de arte, um dos seus maiores destaques é a belíssima Lady Chapel, onde 15 reis e rainhas foram enterrados, como a Rainha Elisabeth I.
Além disso, o mundo pôde ver de perto objetos históricos como as relíquias, ou regalias, apresentadas ao novo rei. Aliás a palavra regalia vem do latim medieval e quer dizer “coisas do rei”, e serve para definir privilégios e direitos. Entre as regalias usadas nesse ritual milenar, o item mais antigo é a Colher da Coroação do século XII. É a única peça que sobrou desse período e é usada para ungir o monarca com óleo sagrado do Monte das Oliveiras, que fica dentro da ampola de ouro em forma de águia. Duas, das três coroas usadas na cerimônia, a Queen Mary Crown (1911) e a Imperial State Crown (1937) e o Cetro Real do Soberano, compartilham as maiores pedras do famoso diamante Cullinan, descoberto em uma mina na África do Sul em 1905. Seu nome homenageia o dono Thomas Cullinan e durante oito meses, três polidores trabalharam 14 horas por dia para cortar e polir nove pedras grandes do diamante original. Vimos ainda o orbe de ouro maciço, ricamente ornamentado com pedras preciosas..., mas o objeto que mais me interessou de todos foi o trono da coroação.
Gente, esse trono ou cadeira de carvalho de traços góticos é simplesmente a peça de mobiliário mais antigo da Inglaterra! Foi feito em 1301 a pedido do Rei Edward I para abrigar a Pedra de Scone ou Pedra do Destino, que havia sido levada à abadia em 1296. E a pedra, que hoje é conservada em Edimburgo na Escócia, é mais lendária ainda e daria um texto inteiro só pra ela! Mas o trono atravessou séculos de história, foi pichado nos séculos 18 e 19, resistiu a um atentado à bomba em 1914, ganhou os pés de leões dourados em 1727 e acabou de ser restaurado para essa coroação.
A cadeira e seus derivados, como tronos e bancos, são a base do meu método de ensino de História da Arte, o sente/arte. Eu uso esse objeto como um fio condutor ao analisar a sua presença nas obras de arte ao longo do tempo. Então vocês podem imaginar a minha excitação ao ver o objeto, e não uma representação dele, sendo usado até hoje e em tempo real, exatamente para a mesma função para que foi criado há 700 anos: coroar os monarcas ingleses. Espero que tenham gostado!
Legendas
1) O cetro do soberano com a maior pedra do diamente Cullinan
2) Queen Mary Crown, 1911
3) A colher, objeto mais antigo da Coroa Inglesa e a ampola da coroação
4) Detalhe da Saint Edward’s Crown, 1661
5) Orbe de outo que pesa, 1,32kg
6) as coroas durante a coroação do Rei Charles III
7) Imperial State Crown, 1937
8) Foto oficial do Rei Charles III corado com as relíquias
9) Imagem da coroação
10) A Pedra do Destino que fica sob o trono da coroação