A arte de fazer tintas: entre tradição, ciência e identidade cultural
O assunto dessa semana é fabricação de tintas. Quando falamos em tecnologia dentro da arte, um bom termômetro para avaliar essa evolução é justamente entender como as cores foram descobertas e aplicadas desde a pré-história. Resolvi trazer aqui todas as minhas referências.
Passei os dois anos da pandemia pesquisando e experimentando diversas técnicas de fabricação de tintas, uma vez que a cor é um dos elementos mais fortes da minha pintura. Altero e combino o uso de pigmentos vegetais brasileiros e minerais franceses para destacar minha dupla identidade cultural. A base da minha pesquisa é toda feita sobre a obra de um autor francês que se chama David Damour. Ele é um verdadeiro alquimista! Tem seis livros que ele mesmo publicou (eu tenho todos), sendo último só de receitas de médiuns, tintas, bastões de cera e pastel que ele inventou e testou. Em 2019 fiz um workshop de tinta acrílica em seu ateliê aqui perto de Paris.
Pesquisando para escrever aqui acabei descobrindo mais dois livros que eu ainda não conhecia. "The Alchemy of Paint: Art, Science and Secrets from the Middle Ages" é um livro escrito por Spike Bucklow, cientista britânico expert em restauração, publicado em 2009 que explora a história e a química da produção de tintas e pigmentos usados em obras de arte da Idade Média, e como essa produção envolvia conhecimentos e técnicas que eram considerados alquímicos na época. Já achei legal pois vi que é uma obra indicada pela Kremer Pigmente, uma loja alemã que fornece quase todos os materiais que eu utilizo para fabricar minhas tintas. O outro é um livro mais técnico: "Pigment Compendium", de Nicholas Eastaugh e outros autores. Uma obra de referência que explora em detalhes a composição química dos pigmentos e aglutinantes utilizados na fabricação de tintas, dicionariozão mesmo. Recentemente uma amiga artista me presenteou com um livro sobre a história dos pigmentos que se chama “Chromatopia” de David Coles. O autor é dono de uma fábrica artesanal de tintas na Austrália e o livro tem fotos lindas, vale muito à pena pesquisá-lo.
Tem um pessoal no Brasil que faz um trabalho muito legal com pigmentos vegetais e oferecem cursos online e presenciais. O Jhon Bermond, da Criativa Terra tem um trabalho com tintas minerais maravilhoso, além de ser um ótimo artista. A Maibe Marocolo, da Mattricaria lá de Brasília tem um ateliê de pesquisa de flora tintorial brasileira. O trabalho dela vai desde a fabricação de materiais de arte até colaborações com a indústria têxtil. Também tem um livro lindo sobre fabricação de tintas chamado “A Natureza das Cores Brasileiras”. E por fim o Conservatório Etno-Botânica, onde compro meus pigmentos vegetais brasileiros. Todos estão nas redes sociais e são facilmente encontrados no Instagram. Eu adoro o assunto então se você tiver alguma sugestão, me manda um e-mail para eu enriquecer essa lista, que eu tenho certeza que só vai aumentar.
Capa do livro de David Coles, Chromatopia