Di Cavalcanti, a Semana de 22 e a destruição

O quadro “As Mulatas” (1962), de Di Cavalcanti que fica no Salão Nobre do Palácio do Planalto esfaqueado em 7 lugares (Foto: Paulo Pimenta)

Diante dos últimos acontecimentos, atos de terrorismo e barbárie em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, mais do que nunca me sinto na obrigação de compartilhar sobre Arte aqui. Quero poder dar a minha pequena contribuição com informação de qualidade para que a educação artística brasileira, hoje legada aos ambientes acadêmicos ou elitistas, seja cada vez mais acessível, leve e considerada, de uma vez por todas, como absolutamente necessária. O que aconteceu na capital do nosso país e aos monumentos históricos, marcos do Modernismo no Brasil e os primeiros dessa época a serem tombados como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, não pode nunca, nunca mais se repetir.

Mais conhecido como Di Cavalcanti, Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo nasceu em setembro de 1897 no Rio de Janeiro. Sua educação artística começou cedo: aos 11 anos, já era aluno do pintor Gaspard Puga Garcia e conheceu intelectuais na casa de seu tio materno, uma figura do movimento abolicionista. A paixão nascente de Di Cavalcanti pela arte lhe permitiu, ainda criança, publicar na revista "Fon-Fon", para a qual ele produziu caricaturas a partir de 1914. Três anos mais tarde, o jovem artista realizou sua primeira exposição individual para a revista "A Cigarra".

Em 1918, Di Cavalcanti se tornaria parte de um grupo de intelectuais e artistas em São Paulo que incluiria artistas como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida etc. Este grupo seria a principal razão da criação da Semana de Arte em 1922. A célebre capa do catálogo foi desenhada por Di. Este movimento junto com o Grupo dos Cinco desejava revitalizar o ambiente artístico em São Paulo na época e tinha como principal interesse libertar a arte brasileira das influências europeias. No entanto, as obras Di Cavalcanti expostas na Semana ainda tinham características das correntes simbolistas, expressionistas e cubistas. Resultado da sua estadia em Paris e contato com artistas como Matisse, Picasso e Braque.

Em 1932, outro grande grupo foi criado por Lasar Segall, Anita Malfatti e Vitor Brecheret que era a Sociedade Pró-Arte Moderna também conhecida como SPAM. O objetivo deste grupo era trazer o modernismo à arte brasileira e incentivar o renascimento de suas ideias nascidas em 22. Em 28 de abril de 1933 este grupo realizou a Exposição de Arte Moderna, que foi a primeira exposição a apresentar obras de Picasso, Léger e Braque, oriundos de coleções particulares, todos conhecidos do povo brasileiro, mas cujas obras não tinham sido ainda vistas pelo público. Esta exposição foi um sucesso tão grande que durante a segunda edição no outono muitos artistas locais brasileiros, incluindo Di Cavalcanti e Cândido Portinari, também participaram. Eu poderia continuar, mas esse post já tá gigante. Isso é só uma introdução, um tiquinho de história. Os cem anos seguintes à Semana de 22 foram definitivos para Arte Brasileira. Essa contextualização foi só pra gente começar a ter uma ideia do que perdemos.

 O quadro de Di Cavalcanti “As Mulatas”, 1962, a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos. A escultura de Victor Brecheret “Bailarina”, 1920, que ficava na Câmara dos Deputados foi roubada. Fora o relógio trazido por D.João VI, as tapeçarias e mobiliários completamente destruídos. Que desolação.

Só a Arte, a Educação e Chaka Kahn, de vez em quando no volume máximo pra passar a deprê, salvam.

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