Giorgio Vasari: o pai da História da Arte

Capa do livro “A Vida dos Artistas” de Giorgio Vasari, 1550

Giorgio Vasari, 1568. Autorretrato

Nas últimas postagens falamos sobre algumas exposições, livros, filmes e principalmente sobre artistas. Hoje em dia, discutimos e pesquisamos naturalmente sobre suas obras, a influência, legado, etc... Mas se a gente parar pra pensar, a figura do artista como conhecemos hoje, o sistema e a própria História da Arte só começaram a ser propostos quando um italiano nascido em Arezzo, publicou em 1550 o livro “A Vida dos Artistas”. Giorgio Vasari (1511-1574) foi pintor, arquiteto e escritor, e ficou conhecido como o primeiro biógrafo de artistas do Renascimento. Portanto considerado o pai da História da Arte.

Antes disso, o artista era o artesão anônimo das corporações de ofício, como nas guildas da Idade Média. Com essa mudança de status, uma nova categoria profissional vai, aos poucos, saindo dos ateliês para as recém-criadas Academias de Arte. Dessa forma, pode-se verificar o surgimento das bases de um novo sistema “mercadológico” em torno do artista através do mecenato.

Em seu livro, Vasari conta histórias que misturam detalhes da vida pessoal com descrições sobre como foram realizadas as obras de 133 artistas renascentistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Donatello e Raphael. Traçando essa relação entre a obra e a vida do biografado, ainda que de leve em questões mais íntimas, traz detalhes fundamentais para se compreender melhor o porquê de algumas pinturas ou esculturas serem como elas são.

Uma curiosidade é que o texto Vasari tinha uma pegada meio colunista social antes do tempo. Quando gostava de alguém, como no caso de Michelangelo ou Da Vinci, era generoso nas suas palavras quando não gostava do biografado era, no mínimo, ácido. Os herdeiros de Sandro Boticelli não devem ter gostado muito da frase “A natureza esforça-se por dar o talento a muitos e, em contraposição, lhes dá a negligência, porque eles, não pensando no fim da vida, muitas vezes adornam os asilos com sua morte assim como em vida adornam o mundo com suas obras”

Começava seus textos com uma breve introdução com um resumo de como via seus personagens. A intenção de elevar os biografados às alturas celestiais fica clara ao se deter sobre o título original da obra de Vasari: “Vidas dos mais excelentes arquitetos, pintores e escultores italianos, de Cimabue até nossos tempos”. Giovanni Cimabue, que viveu entre os séculos XIII e XIV, é o primeiro biografado do livro, aquele que nasceu “para trazer as primeiras luzes à arte da pintura”. O último é Michelangelo, único artista ainda vivo quando foi publicada a primeira edição, simplesmente porque Vasari tinha um certo carinho por ele. Melhor dizendo, tinha veneração. “O Céu o mandou aqui embaixo para servir de exemplo na vida, nos costumes e nas obras, para que aqueles que se miram nele, imitando-o, possam aproximar-se da eternidade”. Incrível a “neutralidade” do autor, não é mesmo?

Vasari morreu em 1574, aos 62 anos, com boa reputação e um belo padrão de vida. Sem querer glória para si — o próprio, apesar de pintor, não se colocou em “Vidas dos artistas" — é lembrado até hoje como como precursor de gerações de biógrafos dos séculos seguintes.

Anterior
Anterior

Di Cavalcanti, a Semana de 22 e a destruição

Próximo
Próximo

A importância da História da Arte para as profissões