O linear e o pictórico

Há alguns anos, eu tive o prazer de dar um aulão online de História da Arte com duração de duas horas para uma turma em residência artística na região de Campos de Jordão, São Paulo. Durante esse tempo, pude compartilhar com os artistas presentes um pouco dos meus conhecimentos e algumas percepções sobre a evolução artística até o final do século XIX, período do Pós-Impressionismo.

Ao explorarmos os períodos do Renascimento e Barroco, voltei num autor que eu gosto bastante de estudar e que tem uma abordagem muito clara e objetiva sobre a leitura das obras de arte. "Conceitos Fundamentais da História da Arte" é um livro escrito por Heinrich Wölfflin, um dos mais influentes historiadores da arte do século XX. Publicado pela primeira vez em 1915, é considerado um dos primeiros trabalhos a estabelecer um método formalista que parte da teoria da pura-visualidade.

Ele criou um vocabulário baseado em dicotomias para facilitar a leitura das obras de arte: linear e pictórico; unidade e pluralidade; plano e profundidade; forma fechada e forma aberta; e clareza e obscuridade. Para Wölfflin, esses conceitos formais são os pilares da percepção visual. Além disso, enfatiza a importância de se estudar a arte em sua totalidade, incluindo não apenas as obras individuais, mas também o contexto histórico e cultural em que foram criadas.

Desses conceitos opostos, a gente se concentrou mais na diferença entre linear e pictórico. No Renascimento o espaço é linear, ou seja, a composição é construída como um projeto arquitetônico e todos os elementos são claramente visíveis, com ênfase nos contornos. Já no Barroco, o espaço cênico, teatral, é chamado de pictórico: a linha é desvalorizada em função dos volumes e há um abandono do desenho tangível dos objetos nas cenas. 

Legal, né? A gente nem viu o tempo passar e ficamos com vontade de continuar, ir mais longe no assunto. O livro de Wölfflin é uma obra revolucionária na maneira como encaramos a arte e sua abordagem influenciou profundamente a maneira como historiadores de arte e críticos de arte pensam sobre o assunto até hoje. É uma leitura interessante para se compreender a evolução da arte e suas diferenças formais ao longo do tempo.

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