A revolução silenciosa de Giovanni Bellini na pintura italiana

Esse post é sobre Giovanni Bellini artista do Renascimento cuja exposição eu tive o prazer de visitar no Musée Jacquemart André, aqui em Paris. Considerado um grande mestre da escola veneziana que deu origem ao colorito - um processo pictórico favorecido que valoriza mais as cores, ao contrário do desegno mais típico dos florentinos em que os contornos dos desenhos são mais destacados - Bellini colocou a República de Veneza no mapa da pintura italiana. Sua brilhante carreira foi baseada em uma constante renovação, sua arte foi evoluindo através de seus encontros e das obras que o inspiraram.

Bellini nasceu em Veneza por volta de 1435. Ele era o filho ilegítimo do pintor Jacopo Bellini (1396-1470), que trabalhava reproduzindo um estilo da época conhecido como Gótico Internacional. Jacopo aprendeu seu ofício com Gentile da Fabriano (1370-1427), cujo trabalho é marcado por uma perspectiva precisa e uma meticulosa observação da natureza.

Em 1453, o casamento da irmã de Giovanni, Nicolosia, com Andrea Mantegna (1431-1506) foi um marco para o jovem pintor. A cumplicidade entre os dois artistas foi tal que durante vários séculos muitas das criações de Bellini foram confundidas com as de Mantegna, cujo objetivo era reviver a cultura antiga, seguindo os passos do escultor florentino Donatello (1386-1466). A partida de Mantegna em 1460 para Mântua, marcou outra mudança na obra do pintor, que pôde afirmar sua própria personalidade e se especializar na produção de Madonnas, replicando muitas vezes suas composições para ganhar mais dinheiro. Bellini havia encontrado seu estilo e seu público com clientes particulares.

Durante séculos, Veneza foi uma colônia de Bizâncio. Graças a sua posição estratégica, sua prosperidade econômica e seus laços com o Oriente, a Sereníssima era uma das cidades mais ricas e cosmopolitas do mundo cristão. Em 1453, quando Constantinopla foi conquistada pelos otomanos, milhares de refugiados fugiram para Veneza, trazendo uma série de manuscritos e relíquias gregas. As Madonnas de Bellini expressam os gestos dos ícones bizantinos, aos quais ele às vezes acrescentava caracteres gregos e fundos dourados.

No século XV, não é surpreendente que pinturas mais modernas tenham chegado à laguna. Particularmente as produzidas nos Países Baixos utilizando uma nova técnica, a pintura a óleo, que permitiu um realismo sem precedentes nos detalhes. Bellini pôde então ver painéis pintados por Jan van Eyck (1390-1441) e Hans Memling (1430-1494). Mesmo sem nunca os ter encontrado, Bellini apropriou-se desta técnica revolucionária. E era atraído pelas obras da Devotio Moderna, um movimento cristão dos Países Baixos que incentiva os fiéis à oração privada, fora da Igreja, e estabelece uma relação de empatia entre o espectador e as figuras sagradas. Foi uma das sementes das Reformas Católioca e Protestante.

Em 1475, a chegada a Veneza de Antonello da Messina (1430-1479), pintor siciliano que havia viajado muito para criar sua própria cultura visual, foi decisiva sobre a obra de Bellini. O encontro foi determinante: Antonello adotou muitas das ideias de seu colega, e Bellini aperfeiçoou suas experiências com tinta a óleo, que se tornaram menos lineares e mais coloridas.

Seu ateliê foi fundamental no cenário artístico veneziano. Na virada do século XVI, jovens artistas começaram a despontar repercutindo o sfumato de Da Vinci, que é uma técnica de pintura para suavizar a transição entre as cores. Giorgione (1478-1510) e Tiziano (1488-1576), descartaram a nitidez do desenho e privilegiaram a liberdade do toque e a força da cor. Os estilos de Giorgione e Tiziano foram os últimos modelos que Bellini, em sua eterna busca de progresso e modernidade, integrou em sua linguagem pictórica. Seu prestígio era tão grande que, quando Albrecht Dürer esteve em Veneza em 1506, declarou que Bellini, embora bem velho, era o melhor pintor de todos os tempos. Assim, depois de ter sido inspirado por tantos outros durante sua carreira, tornou-se, com o tempo, uma referência indispensável para seus contemporâneos.

Legendas:

  1. Giovanni Bellini. “A Virgem e a Criança”, 1485

  2. Giovanni Bellini. “Anunciação ”, 1464

  3. Jacopo Bellini. “A Virgem adorada por um Príncipe”, 1485

  4. Giovanni Bellini. “Santa Justina de Boromese”, 1475

  5. Giovanni Bellini. “Cristo morto sustentado por dois anjos”, 1470-75

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